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Valter Ventura

Nasci em Lisboa em 1979. Vivi até aos 18 anos numa pequena casa que o meu avô e os meus pais encheram com os livros que liam, empilhados em estantes sem ordenação reconhecível: o "Finisterra" de Carlos de Oliveira podia estar ao lado da "Breve História da Aviação" e a "Crónica do Condestável" encostada ao "Elogio da Loucura", de Erasmo. Lembro-me de obras que nunca folheei, mas que por estarem tão perto da minha cama memorizei os nomes escritos na lombada: "À sombra das Raparigas em Flor" ou "Na Outra Margem, Entre as Árvores" e imaginava as histórias contadas no interior. Talvez isto tenha sido importante, não sei. Depois estudei História da Arte na Faculdade de Letras de Lisboa porque me interessava sobre o assunto. Achava que pensar sobre Arte seria o mais próximo que estaria de ser artista: nunca tinha demonstrado talento, nem tinha sentido um chamamento como alguns amigos (que estavam em Belas-Artes) diziam ser-lhes inato. Entretanto estava sempre ocupado. Enquanto estudava, ia fazendo uns biscates, trabalhava em escavações arqueológicas no Verão, continuava a treinar boxe e ia viajando de mochila às costas. Quando regressei do Erasmus em Barcelona, inscrevi-me no curso de fotografia do AR.Co. e isso foi determinante para encontrar uma angústia infinita e constante, que se torna insuportável quando fico sem produzir. Primeiro trabalhei em dupla com o José Nuno Lamas, durante oito anos. Tenho muito boas recordações desses tempos. Era um projecto muito cúmplice, vibrante e divertido. Por várias razões fomos ficando desencontrados, com diferentes prioridades e tempos. Comecei a trabalhar individualmente em 2011, num momento que coincidiu com o convite do Lourenço Egreja para expor (e residir) no Carpe Diem.

 

1. Valter Ventura

Fotógrafo.

2. O que vês quando olhas para a tua obra?

A possibilidade de entrever a obra seguinte.

3. Que elementos não podem faltar numa exposição tua?

A curiosidade do outro.

4. O teu processo artístico em poucas palavras.

Iniciar tarefas infinitas.

5. Artistas vivos ou obras que são uma referência para ti.

Assim de repente: Duarte Amaral Netto, João Paulo Serafim, Rodrigo Peixoto, Ignasi Aballi, Dalila Gonçalves, Daniel Blaufuks, João Penalva, Christian Marclay, Christopher Williams, Wallid Raad, Fiona Tan, Werner Herzog e Pedro Costa.

6. Tendências que tens acompanhado nas artes contemporâneas nos últimos 15 anos.

Nenhuma. Distraio-me facilmente e as tendências são muito fugazes.

7. O que é que tu colocarias no teu cabinet de curiosités?

A pedra de Sísifo, um osso da baleia de Jonas, a chávena de chá de Livingstone, o mapa para as terras do Preste João, a seta que matou Aquiles, o foguetão de Georges Méliès, a armadura de Quixote, uma gravação do canto das sereias, a tampa da caixa de Pandora, um corno de unicórnio, uma maçã da árvore da Ciência do Bem e do Mal, uma pena da galinha dos ovos de ouro e um frasco com nevoeiro. Disto tudo, só me falta ter a banheira de Arquimedes.

8. A experiência como artista residente no CDAP.

Ainda não terminou: continuo a visitar o espaço, a estar em contacto com as pessoas que aí conheci, a ser convidado para projectos e a produzir trabalho na sequência do que aprendi nos dois anos de residência.