Nelson Leirner
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Nelson Leirner (Brasil)
"Relembrando as palavras de Agnaldo Farias*, há uma evidente relação entre a obra de Nelson Leirner e a obra de Marcel Duchamp, especialmente com a família dos readymades, inaugurada em 1913 com a “Roda de Bicicleta” (obra que o artista revisita em várias ocasiões), mas são visíveis também as similitudes e proximidades com as obras de Andy Warhol, Joseph Beuys ou Ilya Kabakov.
É autor de uma obra multifacetada, mesmo polimórfica: desenhos, objectos, múltiplos, carimbos, outdoors, performances e happenings, que, em nenhuma das suas facetas, perde densidade crítica.
A partir de aspectos e elementos da vida quotidiana, das relações e crenças interpessoais ou de questões de ordem económica ou geopolítica, Nelson Leirner faz uma crítica contundente da(s) sociedade(s) contemporânea(s) e do “sistema de arte” vigente.
A sua obra, tantas vezes transgressora e quase sempre bem-humorada, faz recurso da apropriação, exploração e reutilização de elementos iconográficos.
As caravelas, alegoria da ocupação (territorial e económica), simbolicamente construídas com latas de coca- cola, são executadas por um artesão de Maricá, pequena cidade do litoral fluminense. O artista clama não a graça e inventividade desse tipo de artesanato mas a perversidade do princípio da exploração do trabalho alheio e da produção calculada de pobreza e violência. Defeitos de que não estão isentas também as relações estabelecidas entre Portugal e o Brasil, sejam elas comerciais, políticas ou sociais, nos seus mútuos “descobrimentos”. "
Andreia Poças, Fevereiro 2013
* No seu texto do catálogo da exposição N.Leirner1994+10 - Do Desenho à Instalação, que teve lugar entre 13 de Maio e 11 de Julho de 2004, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
Nelson Leirner nasceu em São Paulo, em 1932. Estudou engenharia têxtil no Lowell Technological Institute, em Massachusetts, EUA, entre 1947 e 1952. A sua primeira exposição individual realizou-se em 1961. Em 1963, 1965 e 1967 participou, respectivamente, na VII, VIII e IX edições da Bienal de São Paulo. Formou o grupo Rex, com outros cinco artistas, em 1965, um colectivo que questionava, através de exposições, acções e debates, o excesso de institucionalização da arte. Foi convidado em 1969 e em 1971 para fazer parte da Bienal de São Paulo, mas recusou ambas as vezes. Em 1975 começou a leccionar na Faculdade Armando Álvares Penteado, em São Paulo. Fez parte da mostra colectiva "Modernidade: arte brasileira do século XX", no Museu de Arte Moderna de Paris, em 1987.
Representou o Brasil na 48a Bienal de Veneza, em 1999. Em 2007, a ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte, atribui-lhe o prémio “Trajectória de um artista”. Em 2011, foi homenageado pelos seus 80 anos com a retrospectiva "Nelson Leirner 2011-1961 = 50 anos", na Fiesp/Sesi-SP. Recebeu o prémio "Governador do Estado de São Paulo" em artes plásticas.
Apoio: Galeria Graça Brandão