Pedro Valdez Cardoso
Ártico, 2015
O projecto apresentado visa criar um dispositivo em torno de uma peça de tapeçaria. Esta é o ponto basilar de desenvolvimento conceptual e formal das restantes peças que constituem a instalação final. As regiões polares têm acompanhado o imaginário cultural e social desde o séc. XIX, os conceitos gerados em torno daquelas áreas geográficas são do domínio da utopia e da ciência. Um lugar remoto, quase inabitado, onde a conservação fóssil, possibilitada pelas baixas temperaturas, advém a descoberta e conhecimento da origem do Homem e do planeta.
A partir da noção de expedição e escavação arqueológica, foi criada uma instalação que referencia uma lógica documental e museográfica. Uma grande tapeçaria com um desenho similar aos desenhos de campo arqueológicos ocupa o centro da sala. Em seu redor encontramos objectos diversos que simulam artefactos de uma qualquer expedição: uma rocha com ossadas fósseis incrustadas, um caderno, uma mochila, um par de botas e uma máscara. A acompanhar estas peças existe ainda uma projecção de slides com imagens intervencionadas recolhidas de diversas expedições realizadas ao Pólo sul e Pólo norte ao longo do séc. XX.
Em Ártico é proposto ainda uma certa desconstrução daquela que tem sido até hoje a noção e o uso habitual da tapeçaria como suporte artístico. Um suporte grandemente conotado com o decorativo e com a mera reprodução de uma obra já existente, normalmente do campo da pintura. Existe aqui uma apropriação do suporte nas suas especificidades formais entendendo os seus limites e a sua possibilidade de criar discurso, bem como a sua história. A tapeçaria serviu durante muito tempo como espaço memorativo de determinados episódios históricos. Não existe no entanto neste esse lugar de fixação heroica, nem a simulação da pintura, existe sim a ideia de documento, de mapa e de desenho, ou seja, de lugar de procura e de conhecimento.
BIOGRAFIA
Pedro Valdez Cardoso (Lisboa, 1974). Vive e trabalha em Lisboa. Das exposições individuais, destacam-se: outra coisa, Galeria Caroline Pagès, Lisboa, PT (2014); Reino, Convento de Cristo, Tomar, PT (2014); The Devil’s Breath – Parte III, MACE – Museu de Arte contemporânea de Elvas, PT (2014); Discurso do Método, IVAM – Instituto Valenciano de Arte Moderno, Valência, ES (2013); Pedra que rola não cria limo, Galeria do Parque/Fundação EDP, Vila Nova da Barquinha, PT (2013); Quarto sem vista, Museu de Arte Contemporânea do Funchal, Madeira, PT (2011); O Peso da História, Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, PT (2011); Crude, Museu da Cidade/Pavilhão Branco, Lisboa, PT (2007). Entre as exposições colectivas em que participou, incluem-se: Colónia Apócrifa, Museu de Arte Contemporânea de Castilla Y Leon, ES (2014); Paisagem e Natureza, Museu de Évora, Évora, PT (2013); Para Além da Historia, Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Guimarães, PT (2012); O Fim do Mundo, Centre Culturel de Rencontre Abbaye de Neumünster, LUX (2012); O Rio Voador, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Coimbra, PT (2012); MUITO OBRIGADO – Artistas portugueses en la colección de la Fundación Coca-Cola, DA2 Domus Artium, Salamanca, ES (2010); Do Séc.XVII ao Séc.XXI: além do tempo, dentro do Museu, Museu Nacional Soares dos Reis, Porto, PT (2009); Opções & Futuros – Obras da Colecção PLMJ, Museu da Cidade, Lisboa, PT (2009); Café Portugal, Design Factory, Bratislava, Eslovénia / Fundação Eugénio de Almeida, Évora e Museu Carlos Machado, Ponta Delgada, Açores, PT (2008); Where are you From? – Contemporary Art from Portugal, Faulconer Gallery, Grinel College, Iowa, USA (2008); Jardim Aberto, Palácio de Belém, Lisboa, PT (2007); Lisboa.Luanda.Maputo, Cordoaria Nacional, Lisboa, PT (2007); Entre a Palavra e a Imagem, Fundación Luís Seoane, La Coruña, ES (2006). Encontra-se representado em diversas colecções nacionais e internacionais, e é detentor de vários prémios de Arte.