David Oliveira
“No começo era o movimento.” José Gil in Movimento Total
Este projecto nasce do contacto com o coreógrafo Wes Howard. “O teu trabalho... Faz visível os espaços internos do corpo. Aqui também é a chave da dança”. Encontrámo-nos no palácio e dançámos durante duas tardes. Wes, o bailarino Mehdi Mojahid e eu. Wes sugeriu-me o livro do ensaísta José Gil - Movimento total, o corpo e a dança. O Movimento, é apresentado como a força constante, que existe antes, durante e depois do movimento, é uma fita de moebius, sem principio nem fim, que é simultaneamente o dentro e o fora. Entusiasmado, pensei, se existe no corpo humano, existirá em todos os animais, quiçá em todos os organismos vivos. O movimento total tinha-se expandido. Decidi o Tema do projecto - O movimento total que percorre o(s) Universo(s). Optei por concentrar-me no planeta que habito e partilho com mais 30 milhões de espécies (3 milhões classificadas). Diz a teoria da evolução que todas as espécies derivam de espécies anteriores. Desenhei uma linha condutora que as atravessa, e onde cada ser vivo partilha um pequeno segmento dessa linha, chamei-lhe movimento. Selecionei grupos de espécies para representar cada ambiente terrestre: o ar, a água e a Terra, por partilharem o mesmo momento no tempo que a minha espécie. São as testemunhas da nossa passagem. Comecei por reunir o máximo de informação sobre cada uma, usando como principal fonte de informação a internet. Informação como a dimensão, a forma, o movimento, a cor, o formato de cada barbatana, o número de mamilos, a forma da língua, a localização do ânus. Descobri também que as imagens com mais informação sobre a fauna marítima são as dos pescadores desportivos que ostentam, sorrindo, os cadáveres dos animais mais belos do planeta. Comecei por linhas abstractas. Primeiro um eixo. Deste resultam outras linhas que criam outros movimentos. Este método permite-me representar todos os seres vivos do planeta. A representação nasce de dentro para fora. Cada escultura, tal como uma marioneta, possui movimento. Podendo qualquer posição anatómica ser possível de manobrar para a “instalação”. Ensaiei cada peça no espaço expositivo, na posição pretendida. Cada uma representa um segmento de movimento em repouso. Movimento passado, movimento futuro que se prolonga pelo espaço. O movimento parte do interior para o exterior, atravessa a forma orgânica e transporta com ele, atravéz da luz, a ultima memória que guarda deste, a sua cor. Cada figura é identificável a um olhar de perto, contudo a tentativa de abarcar o geral afasta-nos para uma abstração crescente, onde o movimento, é apresentado como a força constante, que existe antes, durante e depois, sendo simultâneamente o dentro e o fora, como “uma fita de moebius.” O Movimento total está em imaginarmos toda a biodiversidade do planeta, um entre os oito que orbitam em torno de uma estrela. Uma entre 100 biliões que existem numa galáxia. Uma entre 200 biliões que existem num universo, (que existe entre infindáveis outros) e carregar no “play”. “Este projecto é um manifesto artístico com função propagandística.”
David Oliveira